quinta-feira, 14 de julho de 2011

A vida artística dentro das ruas

Por: Leandro Massoni


Dedé Passos atua como artista de rua há mais de 34 anos em São Paulo. Capixaba do Espírito Santo, já trabalhou como lavrador antes de chegar a capital paulista. Chegou a servir como faxineiro na Secretaria da Fazenda do Estado. Mas desde pequeno, sempre manteve o sonho de tornar seu trabalho com a música em algo de maior expressão. O artista havia trabalhado na antiga boate Sombra Sol, que era localizada no bairro da Consolação, na frente do cemitério. Ganhava cachês bem remunerados por fora de empresas por apresentação.

Hoje, morador da Cidade Tiradentes, seu dia-a-dia é considerado “imaginário”, pois não há lugares definidos aonde se apresenta. Dedé conta que consegue ganhar em média de R$ 20,00 a R$ 30,00 reais por dia, além de trabalhos por fora como divulgação de propaganda de empresas de sapatos e restaurantes, além de animar festas de aniversários. Nas ruas, quando se apresenta nas calçadas, bares e praças, as pessoas jogam o dinheiro do próprio condomínio para ajudar o artista.

Dedé conta que quando o clima fica ao seu desfavor fica muito difícil para realizar seus shows, além dos estabelecimentos onde possa trocar de roupa. “Quando chove, não dá para trabalhar. Preciso trocar a roupa em algum restaurante, tendo que consumir algo para que cedam o espaço.” – Afirma o artista. A fiscalização não se torna um problema como ocorre a outros artistas, pois já conhece seu trabalho nas ruas. “A fiscalização não fica em cima. Apenas uso o microfone para fazer a micagem, usando o tom da minha voz.” – Completa.

O artista capixaba revela que quando sua família soube que estava cantando nas ruas, não aceitou sua decisão de tornar a música como seu sustento. “Minha família me chamava de louco por cantar nas ruas. As pessoas me aplaudiam, gostavam do meu trabalho. Pois eu vejo que não teria colocação melhor no mercado de trabalho fora das ruas. Tenho sonho de um dia viajar e conhecer outros países como Portugal e Espanha, pela cultura e a civilização.” – Diz Dedé. O artista também já passou pelo mundo das drogas, mas relata que esse fato não lhe causou nada. “Quando trabalhava na boate anteriormente, o baterista da banda usava drogas. Me deram um dia um whisky com uns comprimidos dentro do copo. Comecei a sentir meu corpo de outra forma, mas nada de grave correu.” – Afirma. Dedé diz que a maioria dos artistas que se apresentam em casas de shows, boates e outros lugares usam qualquer tipo de substância química para se desinibirem em cima do palco. No seu caso, a bebida lhe torna um modo de enfrentar o público sem medo, criando mais coragem para se apresentar. “Não sou alcoólatra, ás vezes tomo alguma coisa no barzinho. Tenho sim coragem mesmo estando sóbrio, mas faço isso para ficar mais descontraído. Mas vejo que todo o artista é meio tímido. É preciso ter o dom e o talento para se ter a coragem.” – Explica Dedé Passos.

A homossexualidade é um dos assuntos que envolvem o preconceito por parte da sociedade. Dedé diz que não se importa pelo que falam de sua parte, e que hoje conquistou o respeito e a admiração por boa parte das pessoas que o assistem em suas apresentações. “Hoje em dia, me chamam apenas de cantor. Apenas fazem algumas piadinhas como bixa, essas coisas. Acho que o povo ainda é ignorante. Algumas vezes fazem caras feias para mim, mas muitos me respeitam pelo meu trabalho e até brincam comigo. Acho que se eu não cantasse, seria mais um qualquer.” – Afirma o cantor de rua. O capixaba mantém contato com as produções do Programa do Ratinho, no SBT, do Pânico na TV, na Rede TV, e do Show do Tom, na Rede Record, onde havia passado na pré-seletiva do quadro “Ridículos”, que faz uma paródia do programa Ídolos, exibido pela própria emissora, garantindo que o ajudariam, caso houvesse eventos onde o artista pudesse exibir suas performances. “Quando fui me apresentar na televisão, no Programa do Ratinho, a produção censurava os xingamentos por parte do público.” – Completa Dedé. Além disso, o artista de rua têm como objetivo montar sua própria boate ou uma casa de shows.

Ao ser perguntado sobre o trabalho de outros artistas de rua, com relação à valorização por parte da sociedade, Dedé vê que muitas pessoas não enxergam o empenho e a dedicação desses artistas amadores. “Têm muitos que fazem esses tipos de trabalhos de rua variados e apenas ganham uma caixinha” – Relata. Muitos artistas que fazem seus shows em praças e a céu aberto também costumam fazer “bicos”, dependendo o que seja melhor, mas a própria mídia da TV acaba valorizando mais a imagens desses artistas. O próprio artista capixaba cita o nome de Rodela, que faz suas aparições na TV esporadicamente. “Um artista acaba ajudando o outro, só precisa ir atrás das oportunidades. Qualquer canal que o chamar ele tem que ir para apresentar seu trabalho. As pessoas pensam que você é louco, mas é preciso enfrentar tudo isso, porque senão o artista não ganha para sobreviver” – Afirma Dedé Passos.

Agora, a meta de Dedé Passos é procurar todos os tipos de canais de mídia e comunicação que possam fornecer ajuda e de pessoas entretidas nesse meio.

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