quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Filme “O Mercado de Notícias” teve pré-estreia no centro de São Paulo

Autor do documentário, Jorge Furtado explicou como criou o longa-metragem e discutiu sobre o futuro do jornalismo.

Por: Leandro Massoni

Um filme que descreve de forma mais precisa como se encontra o mercado do jornalismo e para o jornalista. “O Mercado de Notícias”, longa-metragem dirigido e escrito por Jorge Furtado, o mesmo diretor de filmes nacionais de grande sucesso como “O homem que copiava”, “Doce de Mãe” e “Meu tio matou um cara”, pode ter sido uma das melhores definições para a situação atual da área de comunicação social.


Nesta terça-feira, dia 4 de agosto, a obra áudio visual teve sua pré-estreia no Espaço Itaú de Cinema, localizado na Rua Augusta, no centro capital paulista.

Contando com o depoimento de 13 jornalistas brasileiros de grande destaque, entre eles, Bob Fernandes, Mino Carta e Geneton Moraes Neto, o filme abordou sobre o sentido e a prática do jornalismo em meio às mudanças da maneira de consumir notícias e o futuro da profissão, sendo mostrado também através do enredo da encenação teatral feita pelos atores que fazem parte da versão brasileira de “O Mercado de Notícias”, peça escrita pelo dramaturgo, poeta e ator inglês Bem Jonson.

Porto alegrense, Jorge passou pelos cursos de medicina, psicologia, artes plásticas e até mesmo de jornalismo antes de seguir a carreira como cineasta. Mas como ele mesmo contou, quando sabatinado pelo editor adjunto da “Ilustrada”, editoria da Folha de S. Paulo, Fabio Victor, após a exibição do longa-metragem, mesmo não seguindo na área de comunicação, sempre foi e se considera um aficionado por notícias.

O diretor afirmou que, mesmo com a não obrigatoriedade do diploma, imposta pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, acredita que precisamos ainda formar profissionais mais capacitados e preparados para o mercado e que saibam verificar de forma concisa as fontes das informações.

O diretor e escritor Jorge Furtado sendo sabatinado pelo editor coadjunto da "Ilustrada", Fabio Victor, após a exibição do documentário "O Mercado de Notícias", no Espaço Itaú de Cinema, no centro de São Paulo | Foto: Leandro Massoni
Jorge explicou um pouco sobre a época do Golpe Militar de 1964, quando os jornais eram muito parecidos, tanto pelos layouts quanto pelas informações. Após a eleição presidencial de Luís Inácio Lula da Silva, em 2002, ele acredita que os veículos impressos começaram a ser mais oposicionistas.

Quando perguntado sobre a concepção de seu mais recente trabalho no cinema brasileiro, relatou que precisou pesquisar a história do jornalismo desde o uso das prensas móveis por Johannes Gutenberg até descobrir a peça teatral com o nome homônimo de seu filme, de autoria de Jonson. Foi então que teve inspirações para criar o documentário, reunindo os mais renomados jornalistas da atualidade.

Quando iniciou a tradução da peça de teatro, alegou ter percebido a transformação que o mercado da comunicação estava sofrendo: quando a imprensa começou a ter o poder para mudar a angulação das notícias.

Segundo Furtado, sobre sua opinião acerca do uso das novas tecnologias e de novos meios para se obter informações, “acho que temos a tendência de menosprezar a tecnologia”, porém, é ela que transforma o resto que está a nossa volta.

“A tecnologia digital transformou o jornalismo, o teatro e a televisão. A arte não se inventa, se acumula. A tecnologia não termina. Estamos vivendo uma revolução que está acontecendo agora. Alguém está pensando no jornalismo digital”, destacou.

Em uma de suas reportagens, com um tom um pouco mais hilariante, Jorge Furtado abordou um dos casos mais peculiares onde podemos encontrar a “barriga”, termo muito utilizado quando afirmamos determinado fato, passando a observar depois que o mesmo era um engano: o “Picasso do INSS”.

A história já vem de tempos. No mês de março de 2004, o jornal Folha de S. Paulo havia publicado na capa de sua edição de domingo o seguinte título: “Decoração burocrata”, reportagem esta que falava sobre um valioso desenho do pintor espanhol Pablo Picasso que se encontrava dias debaixo de luzes fluorescentes e em meio à papelada de uma repartição do governo federal.

Nesse caso, Jorge resolveu usar seu "faro jornalístico" alinhado ao bom humor para descrever o sentido de sua matéria: “os novos ocupantes do governo federal não reconhecem e não sabem lidar com o valor da arte”.


A “barriga” nada mais era que uma reprodução fotográfica sem valor algum (quer dizer, custou 20 dólares) do desenho de Picasso, o que gerou tamanhas repercussões na imprensa. Contudo, os jornais, mesmo alertados de seu grave erro, preferiram não desmentirem a informação.

Em 2005, a Folha de S. Paulo estampava novamente em sua capa a imagem do quadro, desta vez, vítima de um incêndio no próprio prédio do INSS, sendo posteriormente salvo, mesmo contrariando os órgãos públicos. Logo, os jornais foram alertados pelos leitores que se tratava de uma reprodução sem valor. Apesar disso, voltaram a cair no erro e nada noticiaram sobre o equívoco.

E para completar, o suposto quadro do renomado pintor espanhol foi dado, em uma certa época, ao INSS como forma de pagamento de uma dívida. Dá para imaginar isso?

O diretor brinca com o fato inusitado ao falar que somente fez o documentário a pedido de alguns amigos que tinham interesse em saber sobre o “Picasso do INSS”.

Apesar disso, Jorge Furtado acredita que o jornalismo está vivendo “a era do ouro” e que logo mais precisaremos de jornalistas cada vez mais profissionais.

Indagado sobre o que é preciso para se fazer, de modo mais realista e fiel, a cobertura de uma matéria jornalística, ele então respondeu que é tarefa do profissional de comunicação “separar o que é ficção do que não é ficção”.

Para ele, os antigos veículos de imprensa ainda possuem forças para repercutirem suas notícias nas grandes mídias sociais e ainda faz um alerta: o que está em grande risco (apesar de nós, jornalistas, não considerarmos) é a mídia do papel.

Embora haja esse perigo (ou não), Furtado contou que prefere buscar notícias lendo grandes jornais, portais na internet e blogs, como o “Poliarquia”, que ele mesmo cita, voltado para assuntos relacionados à política, pois uma das funções do jornalista é investigar o poder.

“Se você não está em dúvida, é porque foi mal informado”, reforçou seu pensamento, ao lembrar-se da frase contida no cartaz de seu filme.

“É preciso ficar em dúvida para buscar os fatos. É importante ler quem não concorda com você”, completou.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Bombardeio em massa à vista!

Matéria publicada no portal Casa dos Focas: http://www.casadosfocas.com.br/bombardeio-em-massa-a-vista/
Por Leandro Massoni

“O jornalismo é popular, mas é popular principalmente como ficção. A vida é um mundo, e a vida vista nos jornais é outro”. Essa é uma das frases de Gilbert Chesterton, jornalista britânico que desencadeou para nós essa pequena discussão: até que ponto o sensacionalismo é válido para a mídia explorar certos fatos?
Como todos sabem, estamos em volta de um emaranhado sem fim de atrocidades noticiadas como se fossem bombas nucleares a ponto de explodirem em nossos aparelhos televisivos ou mesmo em nossos rádios e computadores. O que eu quero dizer é que hoje o conceito “sensacional” deixou de ser algo do gênero impressionante ou inusitado, passando a ser a catarse de um fato, que sofre modificações em prol do veículo ou público o qual ele deseja atingir.
A grande “sacada” das emissoras de maior porte é trabalhar esse conteúdo explorando momentos sofríveis, angustiosos ou dramáticos. Ou seja, trocando o conceitual e prático pelo desprezível e complexo. Infelizmente, eis a dura realidade do mercado.
Mas nem sempre a procura pelo sensacionalismo é perceptiva entre a maioria da população. As classes minoritárias C e D estão em ascensão e fazem parte do que hoje chamados de “mass media”, que remete-se à Cultura de Massa, que nos leva a dizer que é tudo aquilo que a grande maioria das pessoas, ou seja, a “massa” em si, deseja assistir após chegar em casa depois de um longo e árduo dia de trabalho; da tão suada faculdade que nos coloca mais de mil trabalhos para serem entregues já no fim da semana, sabendo que você ainda está no começo dela; ou até para aqueles que voltaram para seus lares depois de quase três horas seguidas de trânsito regado aos “batidões” do funk dos carros atrás e dos cânticos do ronco dos motores, brindados aos sons de notórias palavras de baixo calão.
A verdade é que, a todo o momento, a todo o segundo, estamos sujeitos aos bombardeios massivos da mídia. Ela, que não mede esforços para obter o que tanto necessita: a audiência, ou mais do que isso, a notoriedade e seu nome falado na boca de todos, bem ou mal, não importa.
Apesar disso, ainda existem aqueles que conservam em si o carinho e o gosto pelo jornalismo mostrado com ética e respeito, longe das fanfarronices provocadas pelos veículos que ainda não possuem fama no mercado e que buscam mais entreter usando o lado cômico do que apenas a obrigação de informar.
Agora, fica essa pergunta para você: após seus quatro anos de jornalismo e das lutas sofríveis contra o tempo para entregar seus trabalhos acadêmicos, o que você espera fazer quando formado?