sábado, 26 de maio de 2012

O fim da linha para as locadoras


Pesquisas apontam queda de mais de 65% de movimento nos últimos anos. Mais da metade das locadoras já fecharam as portas.
Por Leandro Massoni
Há algum tempo, não muito, era comum a prática de aluguel de filmes em locadoras, como forma de entretenimento e lazer caseiro.
Mas, com o passar dos anos, o advento da tecnologia tem modificado esses costumes. O DVD substituiu o VHS, até pelo custo mais acessível, e agora quem domina esse terreno é a internet.
Segundo o Sindicato das Empresas de Vídeolocadoras do Estado de São Paulo (Sindemvideo), a queda do faturamento foi de 45% de 2005 para 2007, e depois 15% em 2009. O movimento nas locadoras teve uma redução de 65%. O resultado disso é que mais de 55% das lojas fecharam suas portas. No final de 2010, eram cerca de 2 mil unidades em atividade.
Em uma das locadoras da rede Hawaii Vídeo, localizada na zona norte de São Paulo, a funcionária Gabriela Silva, que cuida do balcão de atendimento, diz que a procura por filmes para alugar está sendo muito pouca. E isso tem ocorrido mesmo com o trabalho feito pelos policiais que fazem patrulha no local e ajudam a combater a leva de camelôs e ambulantes das ruas.
Em média, são emprestados da locadora 270 filmes por mês, o que equivale a R$ 2.500. Gabriela diz que é frustrante a situação em que o mercado se encontra por conta do baixo número de clientes. “Mas estamos conseguindo recuperá-los por meio de promoções”, comenta.
A rede possui ainda mais três lojas no Tucuruvi, Av. Conceição e Av. Guapira, esta última com risco de ser fechada, vítima da falta de lucro.
Segundo relatório apresentado pela Receita Federal foram apreendidos R$ 1 bilhão em produtos falsificados. Dados da Associação Antipirataria Cinema e Música (APCM) registraram em 2010 mais de 25 milhões de CDs e DVDs retidos por ações de combate à pirataria pelas autoridades públicas e dos agentes da associação. O número de DVDs de filmes recolhidos ultrapassa a marca de 19 milhões.
Para um comerciante de feira livre, que prefere não ser identificado, o fato de o material ficar disponível na internet não justifica uma infração na venda do produto. “Na pirataria, se eu copiar o material original é uma coisa, mas está disponível na internet para quem quiser. O pessoal simplesmente tira e fornece para as pessoas que não possuem esse acesso e que desejam”,diz o vendedor.
Ele consegue vender entre 200 e 300 DVDs por dia, por R$ 3,00 cada e R$ 10,00, quatro unidades. O preço em média de um DVD virgem é de R$ 0,20.
O ambulante afirma que a fiscalização é feita pela Polícia Metropolitana, mas nunca sabe quando ela pode chegar. Ele ressalta que os fiscais agem de maneira abrupta e sem respeito com o trabalho dos camelôs. “É uma ordem deles de levar o material, mas destruir uma barraca como eles têm feito é errado. A polícia tem coisas mais importantes para fazer do que ficar correndo atrás de DVD. Estamos trabalhando, não estamos apontando uma arma na cabeça de ninguém. O pessoal compra se quiser”, comenta.
A pirataria e o acesso livre a links na internet têm prejudicado bastante a vida das locadoras. Redes como 100% Vídeo, Alex Vídeo e Vídeo Norte perderam algumas de suas franquias e começam a migrar para serviços web de locação de vídeos.

Para o proprietário da rede Hawaii Vídeo, Sérgio Pires, hoje a pirataria representa mais de 50% do mercado áudio-visual. Além disso, pesa a falta de tempo das pessoas. “Antigamente você pegava um fim de semana chuvoso e uma das poucas opções de lazer era passar numa locadora e pegar um filme. Hoje em dia, com a internet, tem muito mais opções”, analisa Pires.
Segundo ele, o preço para a compra de um filme, sendo lançamento, é muito alto para as locadoras: 110 reais. Para o consumidor final, o preço varia de R$ 12,90 a R$ 39,90.
As locadoras que devem sobreviver com o tempo são as mais tradicionais. As lojas de bairros movimentados devem agregar outros tipos de serviços, como lojas de conveniência, roupas e brinquedos referentes a personagens de filmes.
A redução dos preços do aparelho blu-ray, o investimento no atendimento e em públicos mais segmentados apresentaram bons resultados nos últimos anos.
A Blockbuster, operante desde 1995 no Brasil, era uma das principais redes de locadoras no mundo. Distribuía os grandes sucessos do cinema hollywoodiano e se tornou referência em muitos bairros. A crise veio se instaurar em 2004, quando o Grupo Lojas Americanas comprou a empresa. A rede veio a declarar falência no país em setembro de 2010, passando todos os seus serviços para o formato online. A Blockbuster teve perdas de US$ 1,1 bilhão em 2008, acumulando no final uma dívida de US$ 920 milhões.
Uma das responsáveis pela queda da rede de locadoras norte-americana foi a Netflix. Desenvolvida em 1997 por Reed Hastings, estabeleceu-se no mercado por conta do seu sistema de fazer assinaturas por um preço fixo, com as quais os clientes podem alugar quantos filmes desejarem.
Na internet, o acesso a sites de compartilhamento de vídeos e músicas vem sendo muito freqüente pelos usuários. Em janeiro deste ano, o Megaupload, que possuía um dos grandes acervos de arquivos no mundo, foi tirado do ar pelo governo norte-americano, acusado de ter dado um prejuízo de US$ 500 milhões a detentores de direitos autorais por conta da pirataria de filmes, séries e outros produtos.
Para Pires, o governo não agiu na hora certa para impedir o “boom” da pirataria com leis mais efetivas. “Em todo o lugar tem pirataria e as pessoas toleram como se fosse uma atividade normal. Se houvesse um combate maior, na nascente, por parte do governo, seria mais fácil. Hoje em dia é muito mais difícil, pois você tira um camelô daqui, faz uma apreensão, mas depois ele recupera tudo o que perdeu em alguns dias. Se a lei fosse comprida de forma mais efetiva, poderia acabar ou dificultar bastante à pirataria, melhorando um pouco a situação das locadoras”, afirma.


Veja matéria sobre o fim das locadoras:


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